Sempre tive muita vontade de iniciar este blog, pois as histórias contadas e recontadas entre professores são muito interessantes, mas hoje o que me motivou a iniciá-lo, infelizmente foi a notícia de uma perda lastimável, uma das minhas companheiras nesta aventura de ser professor se foi...
No ano de 1999 conheci a Jo, sempre muito calma, serena, sua voz era exatamente doce. Desde quando começamos a trabalhar na mesma escola, formamos um grupo único. Éramos no total 5: eu, Vera, Fátima Julia e Evelina prontas para o que der e vier.
Muitas coisas aconteciam naquele espaço e sempre defendíamos o trabalho na Educação de Jovens e Adultos. Alguns anos se passaram e Jo sempre me levava até um certo caminho, pois a escola ficava em um trecho isolado e a minha moradia era muito distante.
O carro da Jo nos causava um "frio na barriga", pois quando entrávamos nele víamos um pedaço do asfalto pela pequena abertura que havia no interior do carro. Tinha um cheiro tão forte, mas nada perguntávamos, apenas sentíamos.
Certo dia descontraídamente Jo declarou que 3 dos seus cachorros dormiam dentro do seu automóvel, nos entreolhamos, e os nossos olhares diziam tudo, sem proferir nenhuma palavra, afinal a boa vontade da nossa amiga, era tudo.
No ano de 2001 aprendi a dirigir, virei uma motorista e logo comprei meu próprio "carrinho", nossa que felicidade!
Nunca sequer havia dirigido, nem se quer tocado em uma chave para ligar o motor, mas em fevereiro de 2001 entrei na auto escola e após 3 meses eu já estava habilitada.
No final do mês de abril daquele ano, comprei meu Uno, o primeiro carro a gente nunca esquece, assim eu pude retribuir a bondade da Jo e a partir deste momento eu era a motorista do grupo, sempre levava Fátima Júlia, Vera e Jo.
Mas imagine, primeiro carro, já usado, não demorou muito para mostrar algum defeito. Um dia exatamente em uma curva e subida, o carro parou, que susto para todas nós. Eu até disse:
- Gente se vcs quiserem podem ir, eu me viro aqui.
A resposta me soou simplesmente amizade:
-Que isso! Comemos da carne, roeremos o osso juntas!
Não demorou muito um motorista de uma kombi parou ao nosso lado para ajudar, ele viu que não tinha jeito e se eu quisesse poderia deixar meu carro em frente a sua casa e pela manhã poderia ir buscá-lo, afinal já se aproximávamos das 23 horas.
E assim foi resolvido, mas quem iria dirigir a kombi enquanto ele tentava levar o carro ladeira abaixo?
Eu insegura, afinal só estava dirigindo oficialmente por 2 meses, Jo disse logo eu levo. Já dirigi até caminhão. Mas logo veio mais uma descoberta ao sussurrarem no meu ouvido:
- Andréia leva você, pois a Jo ta sem o óculos e ela não enxerga nada sem ele.
Resolvi então levar a Kombi, neste momento toca o telefone do motorista e Jo com sua voz tão doce atende, nossa que susto era a esposa do nosso salvador. Ele pegou o telefone assustado e tentou explicar o porquê daquela voz atender seu telefone, mas tenho até hoje para mim que ele não a convenceu.
Peguei a Kombi e todas lá dentro, fico imaginando as entreolhadas das meninas a cada curva.
Mas finalmente chegamos em frente a casa do moço que nos confiou seu carro, que estava lotado de moedas no painel, ele entrou dentro de casa e foi uma barulhada, acho que a mulher dele fêz um pequeno e estrondoso escândalo.
Mas para finalizar a noite ele nos levou em casa, 4 pessoas em lugares completamente diferentes e todas foram levadas até a porta de casa.
Eu digo, acredito em anjo!
E sei que onde Jocélia estiver está sendo muito bem cuidada, assim como ela sempre cuidou de mim e de muitas outras pessoas. Apesar de ter vivido tão pouco tempo com Jo e ter nos distanciado quando ela mudou de escola, ainda me lembro nos mínimos detalhes de tudo que pudemos passar juntas.
"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."
Fernando Sabino
Oi, Andréia,
ResponderExcluirSeu comentário no blog me trouxe aqui. Tenho certeza de que teremos muito a partilhar e esta sua história me levou a outra... que em breve contarei!
Vamos nos acompanhando.
Um abraço,
Viviane